sábado, janeiro 01, 2011

. Perdido no Egito .

Boa Noite!!

Bem, vocês devem pensar. Mas sua vida foi só aquilo?
Morte dos pais, responsabilidades e logo depois Khayman?
Oh, claro que não... Eu tive um amor. Apenas um. Foi um grande amor.
Mas não um amor eterno. Esse eu só tenho um... Meu Khayman. É meu único amor eterno.
O único que eu nunca deixaria, ou deixarei de amar...

David passou uns seis meses vindo a minha casa diariamente antes que eu me mudasse para Miami. E foi numa dessas noites que tivemos a conversa que vou contar.

Eu havia saído mais cedo, por a dias estava adiando essa conversa com David. Ele insistia em perguntar em amores e sobre minha vida mortal... Não gosto muito de falar da minha vida mortal. É uma coisa sagrada para mim. Os anos em que eu fui Selene, a filha dos mercadores. Em que eu fui Selene, devota da Deusa Atena...Quando fui Selene, que ia toda semana ao anfiteatro. Selene...
E esses anos são luminosos e belos na minha vida. E como tudo, quanto mais você mexe menos brilhante fica. Prefiro deixa-los como me lembro deles.

Mas, depois de umas semanas ficou complicado evitar essa conversa. Me alimentei bem, e fui ter a fatidica conversa..

Estávamos instalados confortavelmente na sala, meu grande aparelho de televisão estava ligado, David, estava assistindo A BBC de Londres.
Eu estava jogada no sofá, ouvindo música no aparelho de mp3.
Tantas músicas naquela coisinha minúscula. Assustador...
Pensando em como contar a história pro David... Bem, estava na hora.
Desliguei o aparelhinho. Eu ouvia, como Khayman chamava 'essa música rock n' roll'.
Jerry Lee Lewis eu acredito. Mas... a conversa..


- David, vamos até a sacada, temos uma conversinha pendente. - eu disse.
- Sim, claro. Está mais do que na hora de você me contar sobre esse grande amor. - respondeu.
- Não seja tão impertinente..
- Desculpe, não quis ser ofensivo.
- Claro que não queria. Senhor Talbot, vamos. Temos assuntos para tratar.

Nos instalamos na sacada... Minha querida sacada. A adoro com certeza.

- Bem David... Você quer saber o que exatamente?- perguntei.
- Sobre esse amor da sua vida mortal. Basicamente isso. O que aconteceu e por que não deu certo. - falou.
- Certo.


- O nome dele era Tarcísio, nos conhecemos no teatro.
Ele não era um jovem como você poderia esperar... Ele era um soldado, sim um grande guerreiro na minha opinião.Que partilhava comigo não só o gosto obsessivo por vinho, como também uma enorme devoção por Alexandre. Tarcísio tinha acabado de voltar da Índia quando nos conhecemos. Ele era combatente das tropas de Alexandre. Sim, estranho não é?
Quando o Rei voltou para a Babilônia ele resolveu vir para Atenas. Já que havia sido dispensado em todo caso. Por que tinha prestado mais de dez anos de serviço ao Exercito Macedônico.
Eu estava saindo do teatro depois da apresentação de uma peça de Esquilo.
E ouvi uma voz incrivelmente bela, que discutia calorosamente sobre o destino do império... Sobre a grandiosidade de Alexandre. Parei para ouvir.

- Sim, eu estava lá. Ouvi o poder da voz de Alexandre. Ele nos faz acreditar realmente em seus sonhos. Apenas se perdeu em meio aos seus próprios sonhos. - ele falava.

- Eu concordo. Não fomos nós, os tão sábios gregos que passamos séculos nos submetendo ao poder daqueles persas detestáveis? Alexandre, é realmente grande. Nos tirou daquela situação lamentável e elevou nós,os helênicos de volta ao nosso verdadeiro local. A Glória! - exclamei

Os homens com os quais ele falava ficaram espantados por uma mulher ter proferido tais palavras, metendo-se na conversa deles.

Depois dessa gentis palavras sobre Alexandre... ficamos amigos.
Ele sempre aparecia na banca dos meus pais, sempre conversávamos até tarde...
Sim,adorava o nosso tempo juntos... Muitas vezes me embriaguei com o forte vinho que ele insistia em pagar para mim, e ele levou a cambaleante Selene de volta para casa.
Claro que meus pais não achavam certo todo o tempo que eu perdia com ele. Mas,sabiam que no fim iamos acabar casando. Eles gostavam de Tarcísio muitas vezes ele foi a nossa casa, conversou com eles e meus pais o adoravam. Tinham o mesmo fascinio que eu por suas histórias.

Ah,quantas vezes ele me disse que iria me cobrir com as lindas jóias do Oriente. Que eu deveria ir com ele para o Egito. Que deveria ter me conhecido antes, me mandaria todas as lindas coisas que conheceu na Índia. Não teria desperdiçado enviando-as para a mãe, que nada aproveitava.

Só que havia nele um desejo terrível de voltar a viajar, voltar a explorar os novos lugares... Bem, Alexandre já havia morrido... Você sabe David, que depois da morte dele seus generais lutavam feito lobos famintos por seus territórios. Tarcísio queria ir para o Egito, ajudar o Grande Ptolomeu. Sim, o fundador na última linhagem de faraós... Você sabe. Ancestral da famosa Cleópatra. No fim das contas meu caro David, foi isso que nos separou. Ele foi para o Egito... E nunca mais voltou.
E eu nunca, nunca conheci tristeza tão grande, um vazio tão enorme dentro de mim.
Nunca, nem a morte de meus pais foi tão dolorosa. Eu já o esperava, a morte deles era eminente. Mas Tarcísio, era um homem forte e em ótima saúde. Sim, ele era como meus homens por assim dizer... Talvez eu ainda o esteja procurando. Prefiro não pensar nessa possibilidade, me é repulsiva.

Senti falta da sua companhia, de nossas longas horas juntas.
Horas de conversa e histórias. As inacreditáveis histórias.
Você imagina como eu fiquei quando ele me falou sobre os elefantes na Índia? Que ele havia enfrentado aquelas feras junto com seus companheiros? Nossa, como eu o achava corajoso. Ah, David, eu teria me casado com ele. Confesso a você. Mas nada disso aconteceu... O Ouro das índias, o casamento, nada disso.
Ele se foi... Me mandou cartas no inicio.. Mas abruptamente parou.

E eu acabei me transformando no que sou hoje.
Finalmente pude ir ao Egito, o procurei incansavelmente... Mas em nenhum lugar daquela terra amaldiçoada ouvira-se falar no meu Tarcísio. Foi assim que aconteceu esse amor,e foi assim que ele acabou. Sua curiosidade está satisfeita?

- Quase...Você ainda o ama? Sente falta desse amor ?- perguntou
- Você não estaria perguntando isso a si mesmo David? - respondi
- Talvez, você como sempre, consegue ler como ninguém as nossas emoções...
- E não David, não sinto falta nem o amo mais. Há muito tempo conheci amores e pessoas que me fariam esquecer o próprio Alexandre com sua grandeza... Mas na minha vida mortal, nem se o próprio Apolo viesse do Olimpo me cortejar eu deixaria Tarcísio de lado, por que naquela época, ele era o melhor que eu poderia encontrar.
- Entendo. Agora sim, curiosidade saciada. Armand sabe disso Selene?
- Que? Do Tarcísio? Você perdeu o juizo? Ele tem a capacidade de ter ciúmes do passado, se duvidar. Poucos sabem. Julgue-se um sortudo.
- Obrigado, por didivir essa história comigo.
- Você meu caro, merece ouvi-la.

Agora vocês também conhece...

Boa Noite.

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